sexta-feira, 22 de outubro de 2021

Débaclé Cultural na Geração Digital




DÉBACLÉ CULTURAL NA GERAÇÃO DIGITAL


Impressionante a qualidade e a sofisticação das composições dos artistas "subversivos" à época da ditadura militar ao compará-las com a produção atual: Taiguara, Geraldo Vandré, Chico Buarque, Vítor Martins, Aldir Blanc, Ivan Lins. Era uma juventude de uma época em que se valorizavam as leituras,  as artes, a erudição, o repertório cultural. A cultura de massas e a indústria cultural ainda não haviam feito do cenário da vida, uma terra arrasada.


Nesses atuais tempos sombrios, o que a juventude de classe média tem produzido em termos de letras e composição musical? Nessa geração digital, que mais do que nunca pode acessar facilmente os produtos culturais, que seres da cultura têm sido forjados?


Não há apenas precarização da cultura, há um desprezo pela cultura e um excesso de valorização da autoimagem e do aqui e agora, o que, a meu ver, é uma técnica para o esvaziamento do pensamento crítico.


Um círculo narcísico no qual se gastam mais horas postando fotos no Instagram do que se lendo um bom livro, ou se escutando, atentamente, a uma boa música.


Arrisco afirmar que esse fenômeno integra um projeto de elisão cultural e bloqueio da transmissão dessas heranças para as novas gerações a fim de fomentar o conformismo e levar à agudização do consumo de bens supérfluos. Uma técnica ideológica que visa à exacerbação narcísica na cultura das "selfs" e o apagamento do outro. Afinal, o interesse pela cultura é o interesse pelo que uma outra pessoa, que não nós mesmos, pensou, vivenciou e fez...


Muitos dos meus alunos do curso de Direito não conhecem nem nunca ouviram falar de máximas referências da cultura popular brasileira tais como Ivan Lins.  São vitimizados por um sistema que "escolhe" os bens culturais cujas transmissões são permitidas. E replicam a voz desse sistema, acreditando que essa é a voz deles próprios, ao renegarem as heranças culturais, ao se recusarem a ser sujeitos históricos, o que leva a uma pauperização de suas subjetividades.


Ontem, eu perguntei aos alunos de uma das minhas turmas se eles conheciam Taiguara. Enquanto alguns ficam curiosos e querem saber mais, outros dizem "Não é do meu tempo". Então eu os pergunto se eles conhecem Jesus Cristo.

quarta-feira, 6 de outubro de 2021

Queda das redes sociais.


 Queda das redes sociais... A despeito da falta do contato com os amigos, confesso que tive um sentimento de muita liberdade. Como se estivesse alforriada a entregar-me inteira ao meu tempo e lugar, ao aqui e agora. Devolvida ao instante.


As redes sociais são, também, grilhões virtuais, coleiras amestradas. Um apelo à confissão. Se até o século XIX, o lugar da confissão era nos recônditos indevassáveis das Igrejas, aos ouvidos dos padres, e depois disso,  no inviolável divã do analista, as redes sociais são um confessionário distópico, porque confessa-se sozinho,  mas a confissão é pública, por todos escutada e analisada. E mais: Sem direito a perdão e nem promessa de cura.


Além de um confessionário, é um mecanismo  inquisitorial. A cultura do cancelamento é um sintoma desse Tribunal da Inquisição pós-moderno. Não há contraditório, apenas a prolatação de sentença "inaudita altera pars".


E um forte mecanismo de controle:


Controle de corpos, controle de mentes, controle de vidas. 


Mas, sem sermos peixes já caímos inarredavelmente nas redes. E podemos fazer bom uso delas, ao evitarmos sermos usados por elas. Escapando de sermos, desavisadamente, capturados pelas Redes da Confissão e pelas Redes da Inquisição. E porque não dizer, pelas Redes de Intrigas e das Mentiras. Quanto a essas últimas, um blackout permanente do WhatsApp e outras redes cibernéticas dispensaria qualquer passeata pró-impeachment. O atual mandatário da Nação cairia direto ao rés do chão sem "redes" de proteção.


Portanto, ao estarmos pelas redes "enredados", que caiamos  tão somente nas Redes da Partilha para nelas, sem descolamento da realidade, nos balançarmos com os amigos.