domingo, 5 de setembro de 2021

BÍBLIA, LITERATURA, VOCÊ, EU E OS NÓS DO MUNDO

 BÍBLIA, LITERATURA, VOCÊ, EU E OS NÓS DO MUNDO



São fascinantes e intensos os estudos dos textos bíblicos que os situam em uma tradição literária do Oriente Próximo bem anterior à escrita dos 24 documentos  que constituem a Bíblia Hebraica a qual denominamos de Antigo Testamento. Esses estudos se iniciaram em meados do século XIX a partir de descobertas arqueológicas que trouxeram à luz do sol, obras épicas, poemas e leis que são fontes primaciais para os mitos, prescrições e histórias bíblicas que foram escritas no decorrer dos séculos da era antiga, especialmente entre os anos 1000 a 160 antes de nossa Era (a.C) por diversos autores das mais variadas regiões ocupadas pelas tribos israelitas. 


O povo israelita, um pequeno povo que não erguera uma grande civilização como aquelas dos egípcios e dos mesopotâmios, junto aos sumérios, acadeus, babilônios, hititas e fenícios, compartilhavam de bens culturais e tradições semelhantes, dentre essas, a tradição literária. Ao cotejarem-se esses textos redivivos graças aos esforços arqueológicos, com os textos bíblicos, restou incontroverso que esses eram águas que escorriam daquelas fontes remotas e não que eram oásis de geração espontânea em meio a um deserto cultural. 


Poderíamos citar alguns exemplos. A cosmogonia constante do livro do Gênesis de 1 a 11, é uma atualização do Épico babilônico conhecido como Enuma Elish. A história do primeiro casal de homem e mulher no Jardim do Éden apresenta claras afinidades com o Gilgamesh, um Épico assírio e babilônico. O Grande Dilúvio e a Arca de Noé nada mais é do que uma versão para um dos mais populares contos da tradição épica da Mesopotâmia, intitulado de Atrahasis que, por sua vez, é muito similar ao Ziusudra,  um conto sumério escrito há mais de 3.000 anos antes de nossa Era Comum!


Esse exercício "crítico" literário, por si só, esgotaria uma pretensa exegese desses textos que constituem o arcabouço central para a fundação da nossa civilização ocidental judaico-cristã. Mas, algo além me inquietou ao debruçar-me sobre o tema. 


E a minha inquietação levou-me a duas perguntas fundamentais: 


Por que não foram os demais textos originários das civilizações mais avançadas, mas sim essa miscelânea construída por um povo "insignificante" em comparação às grandes civilizações antigas,  um povo  que não ergueu pirâmides nem jardins suspensos, que não apenas fundou a nossa cultura tal como ela o é, hoje, como são a fonte das principais religiões que ainda hoje se espalham sobre o nosso planeta, do ocidente ao oriente: judaísmo, cristianismo e islamismo? 


Quais os maiores impactos na relação dos seres humanos consigo mesmos, com o meio ambiente e no seu modo de pensar, acarretados pela prevalência do ponto de virada, revolucionário, dos documentos israelitas na cultura  ocidental vindoura que fez com que a Bíblia dos Hebreus se emancipasse da tradição literária antiga, qual seja, o monoteísmo?

Já adiantando que apenas o monoteísmo não seria o suficiente para afirmar essa supremacia haja vista o Direito que até hoje aplicamos ser de origem Romana e laica, e forjado, inicialmente, em uma cultura politeísta.

Claro que essas perguntas dariam uma tese, mas tentarei articular algumas hipóteses em um próximo post...rs


Bom domingo! E Fé no mundo e Fé na vida, afinal:

 

"O Senhor viu tudo o que havia feito, e tudo era muito bom".

Nenhum comentário:

Postar um comentário