domingo, 20 de fevereiro de 2022

Corredor Vasari

  CORREDOR VASARI: O "HELICÓPTERO" DOS MÉDICI.


Não é de hoje que banqueiros, magnatas e nem tão galardoados pela fortuna, anseiam por moverem-se de suas mansões até os seus escritórios sem tropeçarem com a plebe rude e as intempéries do trânsito. É assim, ao menos, desde que o capitalismo financeiro resplandeceu na Toscana e os  mais poderosos dos capitalistas, a família Médici, que detinha tanto o poder financeiro, como o poder político em Florença, desejaram por locomoverem-se de forma célere, segura e, mais que tudo, privada. 


Em 1565, com o casamento do primogênito do governante Médici, o florentino Cosimo I, com a filha de um Imperador austríaco, este anseio por demonstração de poder e gozo de privilégios através  do teletransporte tornou-se uma urgência. E para a  concretização desse desejo, impunha-se comissionar o mais rápido dos arquitetos na eleboração e implementação de obras superiores em engenho e arte: Giorgio Vasari.


O poderoso Médici, então, encomendou a Vasari, que já havia sido o arquiteto de seu edifício de escritórios, o Palácio dos Ofícios, posteriormente transformado na Galleria degli Uffizi, uma passagem secreta, através do qual, ele, a sua família e os seus convidados pudessem transitar de sua residência no Pallazzo Pitti , passando pelo Pallazzo Uffizi, até os seus escritórios no Pallazzo Vecchio, no centro da cidade.  Nos moldes das tradicionais passagens secretas desde a Idade média, esperava-se que Vasari planejasse um longo túnel subterrâneo, mas para encantamento  dos Médici, Vasari, provavelmente, já intuindo o júbilo dos poderosos em estarem suspensos sobre tudo e todos, projetou um caminho "aéreo", um corredor sobre a cidade florentina. A obra, como era costume de Vasari, foi arquitetada e implementada em tempo recorde: cinco meses. A "via aérea" tinha o seu auge de maravilha no cruzamento da Ponte Vecchio sobre o rio Arno e nas aberturas estratégicas como aquela que descortinava o rio e a que dava para a nave da Igreja de Nossa Senhora da Felicitá, propiciando que os Médici assistissem às missas sem serem incomodados pelos demais fieis, vale dizer, de um legítimo camarote.


Durante séculos, esse caminho aéreo "secreto" ficou fechado ou com acesso limitado, abrigando partes do acervo do museu da Galleria degli Uffizi. Durante a II Guerra Mundial, depois de haverem bombardeado quase todas as pontes de Florença, os alemães, a mando de Hitler, pouparam não apenas a Ponte Vecchio como o Corredor Vasari. Parece que os fascínios de Hitler pela arte, nessa circunstância, falaram mais alto do que as suas paixões pela destruição, como também pode ser que os monumentos tenham sido salvos por apenas mais uma estratégia de guerra.


Há meia década, o corredor vem passando por restaurações e reformas, sendo que estava prevista a sua entrega ao acesso público, através da aquisição de ingressos, neste de ano de 2021. Em razão da pandemia não se sabe se será possível...


Mas algo é certo, em uma data ainda longínqua ou próxima, desde o século XXI, ao adentrarmos por uma porta discreta e insuspeita no antigo edifício de escritórios dos Médici, na Galleria degli Uffizzi, poderemos alcançar o século XVI. Atravessando o Corredor Vasari, suspensos no tempo, cumprimentaremos os Médici com um sorriso.










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