segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

  



 FEMINISMOS E FANTASIAS SEXUAIS

Luma de Oliveira, além de outras acusações, é, desde sempre, acusada de ter prestado um "desserviço" ao feminismo por ter usado uma coleira gravada com o nome de seu então marido. Dadas as controvérsias em torno do palpitante tema, não posso fugir ao debate, muito menos deixar de lançar uma reflexão. 

Preliminarmente vos interrogo: Vocês nunca ouviram falar em fantasia sexual? Superada essa preliminar, vamos ao feminismo.  Dentro do feminismo não há uma voz unívoca acerca da mulher em palcos sexuais fantasísticos. Há aquelas que fazem uma verdadeira cruzada contra essas representações da mulher, como a feminista Andrea Dworkin, outras, por sua vez, aduzem que nesses palcos sexuais fantasísticos, a mulher desafia o normativo monogâmico e matrimonial sexual. 

Susan Sontag defende que as mulheres não podem ser oprimidas em suas fantasias sexuais e que essas fantasias são o palco natural onde circulam os desejos. Cientes dessas teorias e posicionamentos divergentes dentro do feminismo, vamos aos fatos. Luma de Oliveira, em pleno carnaval na Marquês de Sapucaí, seminua, dança sensualmente, erotiza seu semblante, requebra o seu ventre pra lá e pra cá aos olhos do mundo, rodeada de homens, alguns tão próximos que podem até sentir o seu cheiro, acende desejos e responde-lhes com mais balançares e leva ao pescoço uma coleira com o nome de seu então marido. 

Estão vendo que a mensagem passada não é unívoca, qual seja, uma mulher em situação de assujeitamento ao marido? Ela traz a coleira, sim, mas está, ao mesmo tempo, em pleno estado orgíaco, pois a escopia (olhar e ser olhada) é uma prática sexual. Luma, está em gozo fantasístico com milhares de homens heterossexuais e mulheres homossexuais cujos gozos podem não ser sequer, apenas, fantasísticos. 

A fantasia de compartilhar sexualmente a sua mulher com outros homens, ao mesmo tempo, afirmando ser o dono do pedaço e controlador dessa narrativa, habita a fantasia de muitos homens. Vai desde a vaidade de circular de mãos dadas com a sua bela mulher que desperta o desejo e a atenção de todos, até a prática sexual real, na qual o homem assiste a sua mulher, de fato, com um outro homem. Mas, geralmente, a fantasia em sua realização  não passa de um primeiro estágio. Quanto à mulher, ser olhada e desejada é uma fantasia sexual recorrente, ainda mais, quando ela se encontra escorada em seu amado e "protetor". 

Digamos, então, que a prática sexual entre Luma e Eike, em comum acordo e para satisfação de ambos, neste cenário, estaria ocupando um meio termo, já que Eike também participa da fantasia orgíaca, ele se presentifica, justamente, através da coleira. Enquanto isso, muitas mulheres, cujos maridos não as "deixam" sequer trabalhar, que os esperam todos os dias, pontualmente, com a mesa posta ao jantar, nunca, jamais, usariam a tal coleira, sequer na alcova, menos ainda, em tais circunstâncias. Qual dessas duas práticas, seria então, um maior desserviço ao feminismo?



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